Era uma vez uma jovem abelha que não gostava nada de ser abelha. Achava-se um inseto insignificante no meio de todas as outras colegas obreiras, não gostava da rainha nem dos zangões, preferia ser um outro animal maior e mais forte e não achava justo que os humanos ficassem com quase todo o mel que a colónia produzia de forma tão sábia e perseverante.
Sentia-se infeliz, sem liberdade, uma verdadeira escrava sem vida própria e saturada de repetida e incansavelmente limpar e polir os alvéolos, construir favos, ventilar a colónia, fazer guarda e recolher néctar e pólen, além de lamentar o curto período de vida da sua espécie, quando o que sonhava mesmo era conhecer o mundo e ser alguém famoso e importante.
Um dia, saiu da colmeia como habitualmente e, decidida a não realizar mais as suas tarefas, fugiu à procura da felicidade e da realização dos seus ideais. Voou alegre e livremente por céus nunca vistos como se não houvesse amanhã, alimentou-se e pousou em todas as flores que lhe apeteceu e descansou na copa das árvores e no alto das montanhas, sentindo-se a rainha de todo o planeta e mais além.
No entanto, nos dias seguintes, a chuva e o vento levaram-na rápida e facilmente para bem longe como se de poeira se tratasse, ficando ferida ao ser projetada contra uns pedregulhos. Caiu numa teia de aranha e teve que lutar impetuosamente para conseguir libertar-se e, na semanada seguinte, teve que desembaraçar-se heroicamente de pássaros, ratos, sapos e percevejos. Machucada, faminta e assustada, sentia-se de rastos, sozinha e desolada.
Aproveitando a melhoria do tempo, a abelha arranjou forças sabe-se lá onde, e empenhou-se vigorosamente em regressar à sua colmeia. Ao avistá-la ao longe, parou, sem saber bem se merecia bater à porta e entrar novamente, pois sentia que havia traído a sua família.
Triste, pesarosa e amargurada, quando se virava para ir embora e nunca mais voltar, uma meia dúzia de abelhas suas amigas vislumbraram-na e depressa se aproximaram e, quase sem a deixar exprimir-se, levaram-na radiantes para casa.
Toda a colónia parou para ver a atrevida abelha foragida e, quando todos pensavam que a abelha rainha ia dar-lhe um sermão e até mandar que a castigassem, ela aproximou-se e, emocionada, abraçou-a demoradamente, deu-lhe as boas-vindas e pediu que preparassem o melhor mel da colmeia para participarem todas num enorme banquete.
Após o lauto e inolvidável repasto festivo, a abelha rainha tomou a palavra e disse que estava orgulhosa da sua colmeia pois estava convicta que tinha as abelhas mais trabalhadoras do mundo e, ao mesmo tempo e mais importante ainda, as abelhas com melhor coração de todos os tempos.
Relembrou que as abelhas eram os seres mais importantes do planeta e que se desaparecessem, a humanidade também desapareceria irremediavelmente. Sem abelhas não haveria polinização e sem polinização não haveria reprodução da flora. Sem flora não haveria animais e sem animais não haveria raça humana. As abelhas eram cruciais para a biodiversidade, para o planeta e para o resto das espécies e, por isso, tinham um trabalho e uma missão divina extraordinária.
Depois, disse que as abelhas eram o único inseto a produzir uma substância que os humanos gostavam muito e comiam e que o mel feito por elas dava para todos e ainda sobrava. Elas, na verdade, produziam mel há quase 150 milhões de anos e ele era um excelente adoçante natural e um dos melhores e mais eficientes remédios naturais para os humanos.
Depois, afirmou que as abelhas sozinhas não eram nem conseguiam fazer nada, mas juntas e unidas eram imbatíveis, faziam a diferença e tinham o mundo na mão. Separadas, poderiam ir mais rapidamente, mas juntas iriam, com certeza, mais longe. Se fossem amigas e se se sentissem como uma só família, seriam muito mais fortes, realizadas, felizes e a vida teria sentido pleno, independentemente da duração que tivesse.
Então, a abelha pediu perdão e, agradecendo a bondade demonstrada, disse que aprendera que nenhuma abelha era tão boa como todas juntas e que redescobrira a sua identidade e a sua missão. Então, toda a colmeia dançou e cantou efusivamente e sem parar até de madrugada.