Era uma vez um rapaz igual a todos os rapazes e que, ao mesmo tempo, era diferente de todos os outros. O seu nome era Jesus e vivia numa cidadezinha chamada Nazaré. Como todos os rapazes e raparigas, brincava e jogava com os amigos, mas, ao contrário de todos os demais, gostava muito de estar sozinho, em silêncio e a olhar para a natureza.
Ele ficava verdadeiramente embevecido a contemplar as nuvens do céu a passear e divertia-se imenso a descortinar nelas inúmeras formas de objetos, pessoas e animais e a imaginar lindas histórias com elas. Mais maravilhado ficava ao observar, durante horas a fio, o voo das aves no céu e as brincadeiras dos passarinhos nas árvores, com os seus melódicos chilreados, que considerava extraordinários recitais de música.
Jesus ficava sempre encantado com as diversas e originais manifestações do tempo e gostava de pensar na vida e orar, enquanto escutava o vento a assobiar e as ondas a bater, observava a chuva e a neve a cair e olhava o nevoeiro e a trovoada nos céus. No entanto, eram os arco-íris que o deixavam invariavelmente sem palavras, de boca aberta, com um brilhozinho nos olhos e com o deslumbramento e o fascínio de uma criança.
Bem ao contrário dos amigos, enchia-lhe as medidas levantar-se bem cedo para ver o nascer do sol e, ao fim da tarde, deleitar-se a observar o astro rei a esconder-se devagarinho no horizonte. À noite, ficava extasiado a olhar, durante largas horas, para a lua e para as estrelas, constelações e planetas. Os seus pais encontravam-no muitas vezes com o mais belo dos sorrisos no rosto e com os olhos em lágrimas, de tão deslumbrado que ficava com o firmamento.
Jesus apreciava de forma especial o trabalho dos lavradores no cultivo da terra e admirava o respeito e humildade que evidenciavam na relação com a natureza. Muitas vezes, passava a tarde a conversar com os camponeses sobre a arte da agricultura e sobre as sementeiras que faziam para conseguirem o alimento para as suas famílias e para cuidar dos animais. Os animais eram, aliás, uma grande paixão que tinha, fossem pequenos ou grandes, domésticos ou selvagens, meigos ou perigosos, da terra, do ar ou da água.
Aquela singular predileção de Jesus pelo meio ambiente era justificada pelos pais pelo muito tempo que o menino passara ao ar livre e em viagem nos seus primeiros anos de vida. Durante os vários dias a caminho de Belém onde viria a nascer e, depois, a viver lá nos primeiros tempos, Jesus testemunhou o relevo e o clima da Judeia e, depois, durante alguns meses, sentiu as vicissitudes ambientais e geográficas do Egito.
Posteriormente, foi viver na cidade de Nazaré, que estava situada numa colina pouco acima do Mar Mediterrâneo, próxima do Mar da Galileia e rodeada de montanhas e planícies. Ele sentia-se um privilegiado por viver numa região que, apesar das paisagens áridas e secas, apresentava também vistas muito diversificadas, encantadoras e aprazíveis.
Jesus aproveitava ao máximo todas as viagens em que passeava em família ou acompanhava o pai em trabalho para conhecer novas terras e não se cansava de perguntar tudo e mais alguma coisa sobre o relevo, o clima, a fauna e a flora de cada região e a história, cultura e tradições de cada povoação.
Jesus gostava imenso de ir ler, rezar, cantar e pensar para o alto dos montes e para as margens dos rios e lagos das redondezas e os pais não se importavam, apesar de ficarem sempre preocupados com o muito tempo que ele por lá passava, pois, por vezes, distraía-se e chegava a casa com o sol posto.
Gostava muito de nadar nos lagos com os amigos e ganhava-lhes muitas corridas, apesar de que o que gostava mesmo era de flutuar a olhar o céu por largo tempo e de mergulhar bem fundo para ver e brincar com os peixes. Como o pai era carpinteiro, pedira-lhe certa ocasião que fizessem juntos um barco e era frequente irem passear em família ou sozinho. Não gostava de pescar, mas apreciava a paciência e persistência dos pescadores que iam insistentemente às águas à procura de peixe para alimentar as suas famílias e para assegurar o seu sustento através da sua venda.
Jesus não se cansava de dar graças a Deus por tudo ter feito com tanta sabedoria e louvava o Criador pelas maravilhas que ele realizou e por ter considerado tudo muito bom. Jesus recordava frequentemente aos amigos as palavras sagradas onde se dizia que, no princípio, Deus criou os céus e a terra e disse que se fizesse a luz e separou-a das trevas. Depois, disse que houvesse um firmamento entre as águas e surgiram os céus, a tarde e a manhã. Criou, de seguida, a terra e o mar e ordenou que houvesse plantas e árvores de fruto. Também ordenou que houvesse luzeiros no firmamento dos céus para presidirem aos dias e às noites e disse, ainda, que as águas fossem povoadas de seres vivos, os céus de aves e a terra de animais, segundo variadíssimas espécies. E Deus viu que tudo era bom.
Depois de criada toda a natureza com os seus animais e plantas, o Senhor criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, dando-lhes a missão de cuidar da casa comum de todos. Abençoou-os e disse-lhes que crescessem, se multiplicassem e enchessem e dominassem a terra. E Ele, vendo toda a sua obra, achava que era muito boa. O Jardim do Éden, de que falavam as Escrituras, era bem a metáfora do sonho de Deus onde tudo e todos viviam em harmonia e não havia coisas más. O ser humano recebera a tarefa de cultivar e guardar o jardim que era um autêntico paraíso.
Jesus percebia que só um Deus que era Amor podia arriscar tanto a ponto de respeitar a liberdade do ser humano e permitir que ele se afastasse de si pelo pecado e, assim, se afastassem uns dos outros pelo egoísmo e maldade e pudessem até não tratar bem o planeta que lhe tinha sido oferecido como presente.
Jesus recordava-se muitas vezes também da história do dilúvio universal e da arca que Deus pedira a Noé para fazer. Sentindo-se triste e desiludido com a maldade dos homens, Deus decidira inundar a Terra, de forma a recriar uma nova humanidade. Noé, que era um homem bom e justo, recebeu a singular missão de construir uma arca para salvar a sua família e dois exemplares de todas as espécies de animais. Após quarenta dias e quarenta noites de chuva intensa e incessante, só os passageiros da arca sobreviveram.
Quando parou de chover e o nível das águas começou a baixar, uma pomba solta por Noé trouxe uma folha de oliveira no bico. Aquilo significava que havia terra seca nas proximidades e era o sinal de que Deus fizera as pazes com os homens. Então, Noé foi convidado a sair da arca com a sua família e todos os animais que levara e receberam a tarefa de serem fecundos, multiplicarem-se e encherem a Terra.
Deus estabeleceu uma aliança com a família de Noé e com a sua descendência, tal como com os outros seres vivos de todas as espécies, e fez surgir um arco de luz entre o céu e a terra. Quando houvesse nuvens no céu e chovesse com o sol a espreitar, o arco-íris recordaria o pacto de amizade e reconciliação realizado entre Deus e a humanidade.
Quando Jesus saiu de casa e decidiu falar de Deus ao seu jeito e refletir sobre a existência humana à sua maneira, mergulhou como nunca na natureza, caminhando dia e noite por entre montanhas, vales, planícies, desertos, aldeias e cidades.
João Baptista, que era primo de Jesus, apareceu no deserto a pregar um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados e muitas pessoas foram batizadas por ele no rio Jordão. A verdade é que, passados uns tempos, Jesus veio de Nazaré e foi batizado pelo primo nas águas do Jordão. Depois, retirou-se dali e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias sem comer nada e foi tentado pelo maligno, sem que se deixasse vencer.
Empenhado em anunciar o Evangelho, sentiu que seria muito bom estar acompanhado por alguns amigos que estivessem consigo, partilhassem da sua missão e pudessem ser enviados em seu nome a falar e a testemunhar a boa nova do Reino do Pai.
Um dia, passeando pelas praias do mar da Galileia, viu dois homens, que se chamavam Simão e André, e que lançavam as redes pois eram pescadores, e disse-lhes: ‘Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens’. A verdade é que imediatamente pousaram as redes e seguiram-no. Depois, viu outros dois homens, de nome Tiago e João, que estavam um pouco mais adiante num barco a consertar as redes, e também decidiu convidá-los. Também eles, deixando tudo, partiram com ele.
Numa outra ocasião, falava a uma grande multidão e disse-lhes que não se inquietassem com o que haviam de comer, beber ou vestir, pois a vida era mais importante do que o alimento e o corpo mais importante do que o vestido. Depois, convidou-os a observar as aves do céu, que não semeavam nem ceifavam nem recolhiam em celeiros e Deus não as deixava sem alimento. E concluiu, afirmando que as pessoas tinham mais valor para Deus que elas.
A seguir, perguntou-lhes se alguém seria capaz, por si mesmo, de aumentar o tempo de duração da sua vida e porque é que se preocupavam com o exterior e com o que haviam de vestir. Então, desafiou-os a olhar os lírios do campo que eram belos e cresciam sem que tivessem de trabalhar ou fiar. E afirmava que nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestira como qualquer um deles se vestia.
Então, Jesus concluiu que se Deus vestia assim a efémera e simples erva do campo, muito mais fazia pelos homens, apesar da sua pouca fé. As pessoas não se deviam preocupar com a comida, a bebida ou a roupa como os pagãos pois Deus sabia bem que tinham essas necessidades. No entanto, a maior preocupação das pessoas não deveria ser o dia de amanhã, mas sim a procura do Reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais seria dado por acréscimo.
Numa outra altura, os amigos mais próximos de Jesus foram contar-lhe com todo o entusiasmo tudo o que tinham feito e ensinado às pessoas e, diante da estafa que demonstravam, ele disse-lhes que fossem consigo e se retirassem para um lugar deserto para que descansassem um pouco, já que eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. Então, afastaram-se num barco mar adentro pois a natureza oferecia sempre o melhor ambiente para relaxar o corpo e a mente.
Lembrou-lhes que já tinha convidado muitas pessoas que se sentiam cansadas e oprimidas a irem ao seu encontro, pois ele conseguia aliviá-las. Nele, que era manso e humilde de coração, todos encontrariam descanso para o espírito, já que o seu jugo era suave e o seu farto era leve.
Mais tarde, ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e começou a ensinar-lhes muitas coisas. Como a hora ia já muito adiantada e o lugar era deserto, pegou em cinco pães e dois peixes e, após erguer os olhos ao céu, abençoou-os e a verdade é que se multiplicaram miraculosamente e todos comeram até ficarem saciados.
Depois, Jesus disse aos amigos que fossem embora de barco e foi orar sozinho para o monte. De madrugada, como se deu conta que o vento era forte e eles estavam cansados de remar, decidiu ir ter com eles, andando sobre as águas, mas eles assustaram-se, pensando ser um fantasma. Então, logo os tranquilizou, dizendo-lhes que não temessem pois era ele mesmo. De seguida, subiu para o barco para junto deles e o vento amainou para espanto de todos, mostrando ter poder e autoridade até sobre as forças da natureza.
Uns dias depois, Jesus convidou os amigos Pedro, Tiago e João a irem consigo a um alto monte e transfigurou-se diante deles. O seu rosto resplandeceu como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. Eles sentiam-se ali tão bem que lhe sugeriram que montassem umas tendas para aproveitar ao máximo aquele sítio tão paradisíaco. Ainda estavam a conversar, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e ouviram uma voz que disse: ‘Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-o’ e ficaram ainda mais maravilhados.
Passados uns meses, os romanos e os judeus, incomodados com a verdade das palavras e obras de Jesus, condenaram-no à morte. Teve de carregar uma cruz até ao monte Calvário e ali foi crucificado. Ali pôde contemplar pela última vez a natureza e, no momento em que deu o último suspiro, a terra tremeu, as rochas fenderam-se e houve trevas em toda a terra, já que o sol se tinha eclipsado. Ao ver tudo o que se passara ali e tendo ouvido tudo quanto se dissera de Jesus, um centurião romano exclamou: ‘Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus’.