«A honestidade posta à prova»

Era uma vez um velho lavrador que era muito rico e que gostava que a sua única filha encontrasse um bom rapaz para casar. Como a idade era avançada e estava viúvo, queria muito que a filha tivesse marido, lhe desse netinhos, tomasse conta das suas propriedades e se encarregasse dos muitos trabalhadores que tinha a seu cargo.

Então, decidiu anunciar por toda a região que quem gostasse de conhecer e namorar com a filha, passados três dias, deveria, ao raiar do sol, ir a pé até ao cume da montanha mais próxima e apanhar e levar até si uma rara flor azul que ali existia. Aquele que primeiro o conseguisse, poderia ser o escolhido para casar com a filha.

Dos cinco jovens que se atreveram a fazer a prova, três levaram a famosa flor à casa do lavrador, mas os outros dois decidiram fazer batota, recorrendo a um cavalo e a uma bicicleta. O pai da rapariga ficou muito desiludido com os dois rapazes que tentaram enganá-lo e felicitou os três que foram honestos, dizendo:

– Parabéns, rapazes. A honestidade é fazer sempre aquilo que deve ser feito por si mesmo e não por causa de qualquer outra razão, mesmo que ninguém esteja a ver. Deveríamos viver de tal forma que quando falassem de nós, a honestidade fosse uma das qualidades a que sempre fizessem referência. A honestidade, a retidão e a integridade são as verdadeiras perspetivas pelas quais deveríamos avaliar aquilo que somos na nossa essência e medirmos o nosso valor intrínseco. Hoje em dia, parece que ser solidário, honesto e justo são virtudes tão raras que se tornam notícia quando acontecem. A honestidade está a deixar de ser algo natural e normal do carácter das pessoas para passar a ser um aspeto diferenciador e meritório de pessoas especiais e extraordinárias. Um de vocês poderá vir a namorar com a minha filha.

Como tinham sido três os jovens que tinham cumprido as regras, o velho lavrador, quis pô-los novamente à prova e disse-lhes que aquele que comprasse o mais belo presente para a filha poderia, quem sabe, casar com ela. Então, o lavrador, que se apercebera que eles não tinham grandes posses, pôs no caminho que levava à cidade três bolsas cheias de dinheiro e, dentro de cada, uma colocou um papel com o nome de um aldeão.

Enquanto dois deles se preocuparam em encontrar os donos da bolsa e chegaram a casa do pai da rapariga desanimados por não terem conseguido comprar nada, o outro tinha ido à cidade todo satisfeito e adquirira uma linda joia em ouro maciço. Então, o velho lavrador elogiou a honestidade dos que tinham regressado com as mãos a abanar e repreendeu o outro, dizendo:

– Ser honesto não deixa ninguém mais rico, mas permite a qualquer pessoa ser muito mais livre e feliz. Só a honestidade é garantia de consciência limpa e noites tranquilas e em paz. A honestidade e a verdade não têm preço e não se compram nem se vendem. Contudo, a mentira e a hipocrisia encontram-se gratuitamente em toda a parte e escravizam-nos inevitavelmente. Nenhum tesouro é mais valioso do que a honestidade e por muito que alguém se esforce e vença na vida, se o conseguiu de forma desonesta, é como se nele nada tivesse valor pois a consciência pesará muito irremediavelmente.

Como restavam dois jovens, mas só um poderia casar com a filha, disse-lhes que fossem ao lago que ficava junto ao bosque e aquele que pescasse o maior peixe, namoraria com a filha. Após muitas horas de pesca infrutífera, um decidiu ir a um mercado e comprou um belo e grande peixe, enquanto o outro voltou a casa do lavrador pesaroso por nada ter conseguido pescar. Então, o velho lavrador aproximou-se do que nada trouxera e revelou-lhe que seria ele a namorar com a filha, pois o lago não tinha peixes há muitos anos e o outro jovem tinha sido desonesto. Depois, disse:

– Parabéns, rapaz. Poderás ser tu o meu genro porque tens a maior e mais valiosa das virtudes: a honestidade. Ela é um desafio e um ato de coragem e ousadia num mundo de falsidade e hipocrisia e a vantagem de ser honesto é que haverá sempre muito pouca concorrência. Agora, namora com a minha filha e, se o amor acontecer e os dois quiserem, casem, tenham muito filhos e sejam muito felizes para sempre.

Fonte: Imissio