“Mulher, eis o teu filho” (Jo 19, 26)!
Em poucas palavras e num gesto impregnado de amor, Jesus deu à sua mãe um filho e ao seu discípulo uma mãe. Aos pés da cruz, com o coração trespassado de dor, Maria renova o seu fiat, acolhendo as palavras de seu Filho. Ao receber João, cujo nome, de origem hebraica, significa agraciado por Deus, Maria recebe toda a humanidade, também ela por Deus agraciada, assumindo o papel de protetora, intercessora, guia e mãe.
Em Portugal, o verbo ‘peregrinar’ revestiu-se de particular importância graças às aparições da ‘Senhora mais brilhante do que o sol’, na Cova da Iria, aos pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta, estando os dois últimos a dias de serem canonizados. Aparecendo às três crianças, pela primeira vez, a 13 de maio de 1917, maio passou a ser o mês das peregrinações, por excelência. Pessoas oriundas dos quatro cantos do mundo peregrinam até Fátima para entregar à mãe do Verbo encarnado “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias” (Gaudium et Spes) porque mãe é mãe e no coração de Maria há lugar para todos.
O laço que une uma mãe ao seu filho começa no momento da conceção. Pacientemente, espera nove meses para conhecer aquele pequeno ser que cresce no seu seio e que, mesmo sem o ver, já aprendeu a amar. O amor de uma mãe é muito semelhante ao amor de Deus na sua gratuidade e incondicionalidade e, como tal, nunca somos ‘velhos’ demais para procurarmos refúgio no colo de mãe, porto seguro nas intempéries da vida. Se reconhecemos em nossas mães estas características e se, como mães, nelas nos revemos, então compreendemos com assombro e alegria o dom maravilhoso contido nas palavras de Jesus: a certeza de que a humanidade nunca ficaria órfã. Em vida, deu-nos a conhecer o nosso Abba e momentos antes de morrer, na cruz, deu-nos uma mãe.
Nunca imaginei fazer uma peregrinação. Passava por peregrinos na estrada e não conseguia perceber o que motivava uma pessoa a andar quilómetros para chegar a um santuário ao qual, facilmente, se chega de transportes ou de carro. Até que um dia, no início da minha caminhada cristã, uma amiga desafiou-me para participar numa peregrinação paroquial. Quis logo dizer que não, mas os olhos dela brilhavam de entusiasmo e, renitente, disse-lhe que sim.
Olhando retrospetivamente, vejo que o ‘sim’ à minha amiga abriu as portas do meu coração, permitindo a Deus fazer em mim maravilhas (cf. Lc 1, 49), tal como o da sua humilde serva, Maria, permitiu há mais de 2000 anos. É no concreto da nossa história que Deus se põe a caminho, fortalecendo, a cada passo, a nossa fé, renovando a nossa esperança e aumentando a nossa caridade. A nossa relação com Deus constrói-se nesse peregrinar constante que é a vida, levando-nos a descansar em verdes prados e conduzindo-nos às águas refrescantes (cf. Sal 23, 2).
Aprendi, naquele fim-de-semana, que peregrinar é ‘rezar com os pés’, como relata Tolentino Mendonça num dos seus artigos, combatendo o desgaste físico doando-nos aos nossos companheiros de viagem. Peregrinar é saber ser uma mão estendida ou uma palavra amiga que torna o fardo mais leve e a alma mais cheia. Peregrinar é pôr amor em cada passo; é ter a humildade de acolher o dom do outro, quando as dificuldades do percurso se fazem sentir; é aprender a libertarmo-nos da bagagem extra que carregamos, não só nas mochilas que levamos às costas, mas também da que trazemos no coração e que, tantas vezes, nos impede de seguir em frente. Peregrinar é rezar a vida no silêncio do caminho, contemplando a beleza da criação e dando graças a Deus pelas maravilhas que faz em nós, quando por Ele nos deixamos interpelar.
Até porque, como cantam os jovens de São Julião da Barra:
“Peregrinar:
A cada passo estás mais perto.
Peregrinar:
Sempre no caminho certo.
E a rezar,
Com Maria junto a ti,
É mais fácil perceber:
O Céu é já aqui!”
Texto de destaque:
“Peregrinar:
A cada passo estás mais perto.
Peregrinar:
Sempre no caminho certo.
E a rezar,
Com Maria junto a ti,
É mais fácil perceber:
O Céu é já aqui!”
[©Texto publicado no Magazine iMissio]