Restante Património

A comunidade piscatória da Afurada manifesta uma grande devoção a São Pedro, o seu santo padroeiro, invocando-O nos momentos de maior aflição e dedicando-Lhe vários dias de festejos em finais do mês de junho. O culto a Nossa Senhora de Fátima, cuja afirmação coincide com a criação da paróquia, conhece nesta comunidade uma importância muito particular. O fervor religioso, vivenciado e exteriorizado pela população da Afurada, constitui uma das expressões culturais e identitárias deste lugar.

Património Material

Barca de São Pedro

S. Pedro, enquanto patrono dos homens do mar, foi acolhido pela comunidade da Afurada no século XIX, tomando como seu o santo, daí a alteração para S. Pedro da Afurada, seguindo-se uma série de acontecimentos que visavam honrar a devoção.

«Rede»

Desde 2012, consta do património material, um andor com rede idealizado pela artista plástica Joana Vasconcelos para enaltecer do patrono da freguesia.

Madeiras de pinho e de faia, cordão de seda artificial, aplicações de liga metálica e de plástico, contraplacado, ferro, plástico, folha de ouro, tinta acrílica, verniz acrílico

Dimensões variáveis (Barco: 124 x 143 x 347 cm | Redes: 550 x 550 cm; 355 x 355 cm)

Conheço (…) os areais e o largo rio, onde dois ou três barcos da Afurada pescam a tainha.

O homem atira a rede, e a mulher, num gesto rítmico, bate com o bicheiro na água para assustar os peixes, que se vão lançar na malha. Raul Brandão, Foz do Douro. No âmbito do Festival do Norte, a artista Joana Vasconcelos realizou o projeto artístico «Rede»; intervenção no andor de São Pedro, peça icónica da procissão de São Pedro, na Afurada.

Irradiando a partir do barco que carrega a figura de São Pedro, apresenta-se uma longa rede dourada – símbolo da riqueza da Foz que dá sustento aos habitantes da Afurada -, decorada com a iconografia de São Pedro, apóstolo que Jesus nomeou pescador de homens. Esta malha dourada, executada por pescadores da Afurada, de acordo com as técnicas que tecem as redes de pesca usadas na Foz do Douro, abre-se e estende-se, cobrindo os pescadores que carregam o andor durante a longa procissão: proteção celestial dourada que envolve os carregadores do andor, escudando-os da má fortuna e das intempéries que atormentam a vida de quem vive do mar.

Esta peça, por ser valiosa, deve ser salvaguardada, o que leva a que seja exibida no CIPA apenas em ocasiões solenes.

fonte: in JOANA VASCONCELOS

Património Imaterial

Festas em Honra São Pedro

As festas de São Pedro da Afurada estão intimamente relacionadas com a identidade cultural e religiosa da comunidade piscatória local, desempenhando um marco importante na memória coletiva dos seus agentes. A grande devoção que a população tem a São Pedro revê-se numa imponente celebração como forma de agradecimento pela proteção e graças obtidas ao longo do ano.

Esta festa atinge o seu auge, aquando da saída da procissão, cujos andores transportam imagens de Santos e Santas de tamanho natural seguidos pelos seus fiéis devidamente trajados com as tradicionais vestes das gentes da pesca. 

A procissão de São Pedro percorre todo o território da freguesia, unificando-a simbolicamente. Este itinerário solene une as Afurada de Cima e de Baixo.

O apego ao território e ao Padroeiro é um dos momentos mais marcantes de toda a procissão de São Pedro. Ao longo do percurso é possível ouvir, repetidamente, o bordão “Afurada é Linda” e a exaltação da invocação “Viva o São Pedro, Viva o nosso padroeiro”.

À passagem defronte ao Rio Douro, procede-se à bênção dos barcos acompanhados pelo toque das sirenes e morteiros.

Alguns objetos que existem para a realização das festas, acarretam o saber-fazer tradicional como a barca da embarcação e a rede idealizada por Joana Vasconcelos e elaborada por pescadores locais, segundo técnicas tradicionais.

A Procissão de São Pedro da Afurada é uma das mais afamadas celebrações do concelho de Vila Nova de Gaia.

Nossa Senhora Estrela do Mar

A devoção a Nossa Senhora Estrela do Mar conheceu uma forte expressão na localidade, corroborando o significado histórico que o culto mariano assumiu nas comunidades piscatórias.

As festas de Nossa Senhora da Estrela do Mar eram organizadas pelos homens da pesca do bacalhau. Atualmente, a imagem continua a ser conduzida na procissão anual em honra de São Pedro.

Património Natural

É naturalmente o rio Douro, um meio potenciador para a Fé que acaba por resultar na realização das festas.

Banhada pelo rio Douro, Afurada convida a momentos de contemplação e de deleite. A Rua da Praia adquire com o Programa Pólis (2005) uma reorganização de percursos e a valorização de passeios.

Os aglomerados piscatórios apresentam características únicas que os individualizam. Na Afurada, a caíca era usada essencialmente no interior do estuário do Douro, sendo movida a remos e, por vezes, à vela.

Para além das aventuras no alto mar, os homens dedicam-se igualmente à manutenção das embarcações e à reparação das redes no Porto de Pesca.

Depois dos pescadores retornarem à terra com a mercadoria, cabe às mulheres a preparação e venda do mesmo.

É no mercado que atualmente as peixeiras encerram o ciclo da pesca. Mais contemporâneas na forma de vestir e nas expressões, entregam-se a uma atividade que já é intemporal na localidade e que tem passado de geração em geração.

As mulheres na Afurada sempre tiveram um papel fundamental na comunidade. As lavadeiras nascem da necessidade de uma segunda fonte de rendimento. Essas mulheres enérgicas, depois de venderem o peixe iam ao rio lavar a roupa dos fregueses.

Atualmente as mulheres já não lavam no rio, mas em tanques construídos pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, iniciativa que reconheceu uma tradição profundamente enraizada.


Atualmente as mulheres já não lavam no rio, mas em tanques construídos pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, iniciativa que reconheceu uma tradição profundamente enraizada.

Embora algumas mulheres façam ainda desta atividade profissão, a grande maioria exerce-a por gosto e pelo convívio com as lavadeiras que aqui se reúnem diariamente.

Acompanhadas pelos filhos pequenos, que brincam em grupo, as lavadeiras prolongam as atividades domésticas com a lavagem da roupa.

Os estendais fecham este quadro da Afurada, marcando a paisagem com os tons multicolores das roupas a secar ao sol. Colocados em frente aos tanques, os estendais refletem padrões de sociabilidade, correspondendo individualmente a uma determinada família.

A roupa lavada à mão distingue-se pela qualidade do trabalho das lavadeiras e pelo cheiro do sabão e da lixívia que impregnam o ambiente.

Percorrer as ruas da Afurada é sentir a ligação que a comunidade tem com o lugar. O dia a dia, as dinâmicas relacionais e a devoção são vividas porta a porta, nos passeios e entradas das habitações.

Pelos passeios da Afurada distribuem-se mesas, bancos e cadeiras utilizados para o descanso, mas também para a recriação e convívio entre famílias e vizinhos. Na rua vive-se, conversa-se, canta-se e reza-se. A rua é palco do genuíno sentido de comunidade.

As portas abrem-se diretamente para a rua e são decoradas com plantas que embelezam as entradas. As fachadas são ainda dominadas pelos estendais, vassouras, bacias, baldes e outros auxiliares do trabalho doméstico e feminino.

Na Afurada vive-se o fervor religioso habitual entre as comunidades piscatórias. Aqui, a devoção está naturalmente associada à arte da pesca e aos perigos que ela acarreta e, por isso, os santos de maior devoção estão diretamente relacionados com o mar.